O dia em que o PT se rendeu ao PMDB
O dia em que o PT vendeu a alma para o PMDB
Por Manoel Herminio
Canal Livre
Fundado por dirigentes sindicais, intelectuais de esquerda e católicos ligados à Teologia da Libertação, em 1980 em São Paulo. O PT é fruto da aproximação dos movimentos sindicais, a exemplo da Conferência das Classes Trabalhadoras (CONCLAT) que veio a ser o embrião da Central Única dos Trabalhadores (CUT), grupo ao qual pertenceu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com antigos setores da esquerda brasileira.
O PT levou 22 anos se preparando para assumir o poder central no Brasil e promover uma ampla reforma social que transformasse toda a estrutura da sociedade brasileira. Para isso criou um sólido programa partidário onde prevaleciam fortes doutrinas baseadas na ética, investimento na educação, saúde e justiça social. Para isso foi vitrine de bons exemplos em cidades diversas cidades governadas que serviram de referencia pelos bons níveis de aprovação de suas administrações. Passadas três eleições democráticas para presidente da república, Lula chega em 2002 ao 2º turno depois de várias concessões e vence o candidato de centro direita José Serra do PSDB.
Naquele momento o povo elegeu o presidente da república do Partido dos Trabalhadores, porém, no mesmo pleito elegeu um congresso de maioria oposicionista ao governo. restou ao PT fazer alianças com alguns partidos menores, e que sempre foram distantes das práticas até então defendidas pelo partido. No entanto o PT sabia que entre as concessões feitas para vencer o pleito de 2002, tinha se comprometido a não promover rupturas política e econômica, e que no jogo que se propunha a governar, a única saída seria compor alianças, mesmo com partidos tão diferentes de sí. Foi ai que entrou na jogada o PTB, PL e PP, dentre outros.
Mesmo com as composições, o PT continuou a encontrar dificuldades para ganhar apoios e aprovar suas propostas de reformas. Afinal, PSDB, PMDB e PFL, juntos tinham maioria na câmara e no senado, e não facilitavam em nada a vida do novo governo eleito, que hora tinha suas propostas aprovadas e horas derrubadas pela forte oposição de aliados do derrotado governo de FHC.
Foi quando em junho de 2005, acuado por um escândalo envolvendo um de seus apadrinhados, o então deputado e articulador do governo Roberto Jefferson botou a boca no trombone, e denunciou que para manter a frágil maioria no congresso, o PT pagava uma propina denominada de "mensalão" aos parlamentares dos partidos aliados. Tal denuncia caiu como uma bomba sobre toda a sociedade, que passou anos e anos ouvindo petistas se comportarem como fiel depositários da ética e moralidade pública. Logo os meios de comunicação da grande mídia, potencializaram a delação de Jefferson e deixou a opinião pública indignada com a falta de defesa convincente por parte do governo e do PT, que passou a sofrer um enorme desgaste e ficou a beira da ingovernabilidade. Na sequência o congresso abre uma CPI, se aprofunda nas denuncias e o governo se vê ainda mais fragilizado, e com fortes possibilidades do presidente Lula sofrer um impeachment.
No rasto das denuncias o ministro da casa civil e homem forte do governo, José Dirceu é demitido e cabeças não param de rolar. Foi então que Lula entre a cruz e a caldeira decide se aproximar de forma mais enfática e evidente do PMDB, loteando o governo e ganhando o apoio decisivo do partido para manter-se no cargo com maioria segura e garantia para aprovação das propostas de interesse do Palácio do Planalto. Naquele momento, o PT não só dividia o poder com o ex-aliado do derrotado PSDB, mais também vendia sua alma ao diabo. Lula se aproximou da ala conservadora do PMDB, como Renan Calheiros, Geddel Vieira Lima, Garibaldi Alves, e fortaleceu ainda mais os seus laços com a família Sarney, entregando-lhes os anéis para ficar com os dedos.
Passada a fase de riscos e livre do impeachment, Lula passou a adotar uma postura cada vez mais próxima do povo e mais distante do seu partido, se desvinculando das amarras ideológicas que o prendiam ao PT e adotando uma linha bem mais independente de atuar e governar. Deixou de lado as vestes programáticas e adotou o estilo pragmático de atuar no diverso mundo político brasileiro. Só que essa nova metamorfose ambulante chamada Lula, pagou e paga até hoje o preço da sua nova escolha. Durante o restante do seu governo, Lula passou a defender e proteger abertamente ministros e pessoas ligada ao alto escalão da sua seara, de várias denuncias de corrupção ativa e passiva. Orientou a nova base no congresso a passar o rolo compressor por cima da oposição e impedir toda e qualquer tentativa de abertura de CPIs, e em outra frente usou sua recuperada e larga popularidade para peitar a grande imprensa conservadora que não o engolia.
Lula usou todo o seu prestígio para impor ao PT e a oposição a ministra da casa civil, Dilma Rousseff, como sua candidata. Com pouco transito nos meios políticos, e considerada por muitos aliados como intransigente e durona, Lula não abriu mão de lançar e apoiar Dilma, levando-a a vitória contra seu opositor e desafeto José Serra. E assim passava o tempo, e Dilma parecia imbatível, com índices de popularidade jamais vistos na história política brasileira, superando em confiança até o seu criador. Mais vieram os protestos que pipocaram em todo o Brasil, e quase toda a classe política caiu em desgraça, tendo Dilma como sua timoneira maior.
As vésperas de mais uma eleição para eleger um novo governo, Dilma é favorita no pleito, mais está visivelmente fragilizada e ferida por um crescente desgaste causado pela falta de articulação política, conexão com os movimentos sociais e desconfiança na economia que não convence a ninguém, nem mesmo os aliados. Depois, esperava-se mais de Dilma, até que do próprio Lula, já que ela se apresentava como a grande gerente da obra do seu patrono e acenava com a proposta de fazer um governo técnico com poucas concessões ao fisiologismo predominante entre seus pares.
Mais afinal, o que fez com que Dilma ficasse de uma hora para outra tão fragilizada ?. São várias as análises, porém, algumas se destacam: demorou a responder às demandas dos protestos, é titubeante com os assuntos da economia, e enfraquecida virou refém de um congresso chantagista, fisiológico e oportunista, que não tira a metralhadora da sua cabeça. Estonteada e sem saber qual direção seguir, Dilma oscila entre se esconder como uma avestruz e ficar de joelhos para uma base parlamentar pobre e podre. Depois de inúmeras realizações e avanços, seu governo não consegue reagir e enquadrar os caciques da sua tribo, que dominam seu governo, jogam contra e lhe anestesiam. O que parece é que Dilma é muito eficiente como executiva, porém, não consegue usar o seu imenso poder como presidenta da república para persuadir, encantar e liderar sua base, de saco de gatos. Pobre Dilma, que deus nos acuda.