Carnaval: Daniela Mercury sem camarote
Daniela Mercury desiste do camarote
Carlos Vianna Junior
O fim do camarote de Daniela Mercury pode ser a ponta de um iceberg que esconde dificuldades da indústria do carnaval baiano. A falta de apoio estatal foi um dos motivos que levou a cantora a decidir pôr fim em 18 anos de história. Além disso, ela destacou a crise mundial e os grandes eventos esportivos que o país recebe nos próximos anos como obstáculos para a capitação de cerca de R$ 7 milhões,necessários para
Daniela assume estar cansada do esforço que tem feito para manter o camarote. “Minha equipe passava 90% do ano em de busca de recursos que não se revertem em lucro financeiro, pelo contrário. O camarote ao contrário do que se pensa tem sido deficitário em muitos anos e em outros, apenas se mantêm. As dificuldades vêm crescendo e com elas o desgaste, que hoje, julgo desnecessário. Prefiro focar em outros pontos de minha carreira”, disse.
Apesar da tristeza pelo fim do camarote, ressalta que há um lado positivo em sua decisão.Livre do desgaste pela busca de recursos, Daniela terá mais tempo e também contará com a sua equipe mais focada em outros aspectos de sua carreira. Seu desfile no carnaval, por exemplo, deve receber mais investimentos. “Para 2014 já começo a trabalhar no tema que será o centenário de Dorival Caymmi. Quero, se encontrar recursos para tanto, mostrar na avenida todo amor que tenho pelo mestre”, disse.
A promoter Licia Fábio afirmou que a parceria entre ela e Daniela, iniciada no primeiro ano de vida do camarote, não está acabada. “Tanto a pareceria como a amizade é eterna”, ressaltou. Atual proprietária do espaço ocupado pelo camarote no circuito Barra/Ondina, Lícia Fábio disse que está preparando algo para substituir à altura o legado de Daniela. “Não sei ainda o que vai ser, mas tem de ser algo tão bom quanto sempre foi. Não posso decepcionar Daniela”, disse abraçando a amiga.
Crise
Segundo Daniela Mercury, a situação pela qual passa como empresária no carnaval de Salvador é a mesma que muitos outros artistas baianos que investem na festa. “Como somos artista de Axé, que significa alegria, muitos de nós não querem mostrar o outro lado desse mundo. Muitos não querem assumir que passam também por dificuldades”, afirmou.
Daniela não fala diretamente em crise, mas acredita que é chegada a hora de os artistas, assim como toda a indústria de entretenimento da Bahia ter um “papo tête-à-tête”, para começarem a alcançar o respeito que merecem. “Fazemos um trabalho que vem promovendo a Bahia de uma maneira que nenhum outro setor da economia pode fazer. No entanto, dependemos quase que exclusivamente dos recursos privados, que estão cada dia mais difíceis. Temos que debater essa questão para que eu não seja a primeira de uma lista de muitos que deixam de investir no carnaval”, explica.
Segundo a cantora, o investimento que a Prefeitura faz no carnaval, basicamente na estrutura, é muito pequeno frente ao que ela ganha com o poder de atração do conteúdo da festa que fica por conta dos artistas. “Desde o Canto da Cidade, Salvador passou a receber cerca de 500 mil turistas todos os anos, crescendo ao ponto de alcançar os dois milhões. Temos as tarifas aéreas e uma as diárias de hotéis mais caras do mundo, nesse período. Ou seja, os lucros para muitos setores são grandes, mas o artista, que é o responsável principal, não é valorizado”.
Como empresária, ela aponta que a tendência é de maiores dificuldade em conseguir recursos junto à iniciativa privada nos próximos anos. “Quase 50% das empresas com potencial de investir em cultura e entretenimento no Brasil tem sedes em outros países, mais vulneráreis à crise mundial. Ao receberem o impacto da crise econômica, os primeiros cortes que fazem são em marketing e patrocínios. E isso já está sendo sentido pela indústria de entretenimento”, ressalta.
Outro ponto destacado pela Rainha do Axé foi o formato que a festa vem adquirindo nos últimos anos: “além de não investir no conteúdo do carnaval, a Prefeitura vem fazendo um trabalho que impacta negativamente empresários como eu. Ao captar recursos junto à iniciativa privada para a festa, ela acabou se tornando uma de nossas grandes concorrentes”.
A cantora, no entanto, acredita que o prefeito atual, ACM Neto, traz uma mentalidade que pode mudar um pouco a situação. “Ele tem nos convidado para conversar em busca de soluções”, conta. Ela acrescenta que já teve encontro com o secretário estadual de Cultura, Albino Rubin, e que ele também tem se mostrado atento às dificuldades dos artistas e da indústria do carnaval como um todo. Daniela acredita que a questão da indústria de entretenimento baiana sofre de problemas parecidos com os da nacional. “Para se ter uma ideia, não temos nem legislação para regulamentar o trabalho de artistas como músicos, bailarinos e técnicos entre outros”, acrescenta.